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todos os rios são o mesmo rio / allar ár eru sama áin

Galeria Mjólkurbúðin, Akureyri, Islândia, 2025

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Exposição  Todos os rios são o mesmo rio, de Clara de Cápua. Galeria Mjólkurbúðin, Akureyri, Islândia, 2025.

Em português, a palavra “nós” carrega simultaneamente os sentidos de “knots” e “us”. Já “enrosco” pode designar tanto os nós (knots) de uma linha de pesca ou de uma corda, quanto situações (emocionalmente) complexas, o que em inglês poderia ser traduzido livremente como “knotted up” ou “to feel tangled”.

 

A série Nós (2022-2025) é um conjunto de pinturas que representam os nós disfuncionais que Clara de Cápua criou e manipulou em seu ateliê, em um exercício de mimetização imperfeita daqueles nós de pescador que o pai fazia durante a infância da artista. Em conversa sobre o processo de construção dessa série, Clara descreve esses nós (knots) como emaranhados nos quais "não se vê começo nem fim". Mais do que um gesto de resgate afetivo, suas obras revelam um estado interior diante da perda e uma memória do pai em constante reinvenção. 

 

Em diálogo com essa memória, Clara fala em primeira pessoa, de forma íntima, sobre o “nós” que a une ao pai. Mas a ausência e o esforço de preencher esse vazio também ressoam em nós, espectadores. Afinal somos, todos, fruto e continuidade daqueles que vieram antes, daqueles que nos rodeiam hoje, e elo de uma corrente que se projeta no tempo. A morte, o luto e a memória atravessam todas as vidas, de forma que a expressão da história pessoal de Clara também alcança uma dimensão universal, que ecoa em todos que assistimos à sua narrativa.

 

Na instalação 29 fotografias antigas (2025) vemos a proa de um barco que navega - em um dos rios de sua infância, ou por algum dos rios percorridos pelos pais da artista, que ela incorpora na manutenção e reinvenção de sua memória. Todos os rios são o mesmo rio. Na obra Fantasma (gravura com fotografia, 2024), Clara retorna a essa imagem, assumindo o ponto de vista do fotógrafo original. Ela está recriando a experiência e o próprio olhar de criança, ou assumindo simbolicamente a condução que antes cabia ao pai?  


A história que Clara nos conta nesta exposição é uma história de afeto, diálogo e amadurecimento, e não de despedida, como pode parecer à primeira vista. Ao contrário do retrato do pai que se apaga diante da câmera (todos os rios são o mesmo rio, 2020) ou dos cenários da infância que se esvaem na sucessão de impressões em tecido (Livro para desaparecer, 2022), a memória paterna permanece nítida através dos relatos visuais narrados por Clara. E é por meio deles que ela se conecta ao pai em uma história onde não se vê começo nem fim.

Isabel Roth

Curadora

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1. Pai, 2020.
Grafite apagado sobre papel, 56 x 42 cm.


2. Livro para desaparecer (políptico), 2022.

Impressão fotográfica sobre tecido, 25 x 40 cm cada. Edição 1/5 + 1 PA

3. Sete estudos sobre a ausência (série), 2020.

Recorte sobre reprodução fotográfica, dimensões variáveis.


4. Emaranhado, 2025.

Acrílica sobre tela, 65 x 85 cm.


5. Nó #7 (série: Nós),  2025.
Acrílica sobre tela, 25 x 25 cm.

6. Nó #6 (série: Nós),  2025.

Acrílica sobre tela, 25 x 25 cm.

​7. Nó #5 (série: Nós),  2025.

Acrílica sobre tela, 25 x 25 cm.

​8. Nó #3 (série: Nós),  2024.

Acrílica sobre tela, 25 x 25 cm.

9. Nó #4 (série: Nós),  2025.

Acrílica sobre tela, 25 x 25 cm.


10. Sem título (série: Existe um mistério na água do rio que até o mar desconhece), 2025. 

Impressão fotográfica sobre Dibond, com face de acrílico, 40 x 65 cm.​ Edição: 1/3 + 1 P.A.

11. Fantasma, 2024.

Gravura com elemento fotográfico, 42 x 50 cm. Edição: 4/8 + 1 P.A.

12. 29 fotografias antigas, 2025.

Instalação com reproduções fotográficas, dimensões variáveis.

13. todos os rios são o mesmo rio, 2020.

Vídeo, som, cor, 4’54’’. Edição 1/4 + 1 PA

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Registos da exposição  Todos os rios são o mesmo rio, na Galeria Mjólkurbúðin, em Akureyri, Islândia, 2025.

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Flyer de divulgação da exposição  Todos os rios são o mesmo rio.

ficha técnica

Clara de Cápua: todos os rios são o mesmo rio

Mjólkurbúðin, Akureyri, Islândia

18 a 27 de julho de 2025

Curadoria: Isabel Roth
Agradecimentos: Brynhildur Kristinsdóttir, Carla de Cápua, Fabiano Fernandes, Tales Frey e Unnur Óttarsdóttir.

Agradecimentos especiais: Ao Akureyri Art Museum, pela hospitalidade de seu programa de Residência Artística, sem a qual esta exposição não teria sido possível.

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